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Encantadas – português

Aoruaura
Apoptose, 2021
Pesquisa fílmica entre corpo e forma
barro, paisagem, artista viva
 
Aoruaura é a plataforma e fazer artístico de Oura Aura, nascida a 03/03 no ano de 1997. Com práticas na performance e nas Artes Visuais, a artista cria em condições de caos uma nova corpa-imagem possível de afeto, usando a imagem e o corpo como matéria moldável, utilizando desde objetos inanimados a animais mortos. Partindo do reflexo do corpo e movida pela não identificação com a própria imagem, compartilha em uma galeria virtual situações em que testa sua própria natureza. Em trabalhos como „Indução ao processo de autodesconhecimento 00001“ e „Tentativas de retorno“ a artista relaciona sua complexidade à composição multicomplexa da terra.
 
Rastros de Dyógenes
Pytuna, outros nomes para noite escura, 2022
Instalação audiovisualRastros de Diógenes é performer y artivista visual andarilha, proponente de intervenções poéticas, interseccionando ecologia, memória, presença y virtualidade como estratégias de retomada. Sua formação transita pelo design gráfico, educação ambiental y pedagogias experimentais. Apresenta trabalhos y oficinas no Brasil, com passagens em mostras, festivais y residências em Abya Yala y Europa. Originárie de Mamanguape (PB), vive e trabalha em Niterói (RJ).
 
Artist Statement – Rastros de Dyógenes
“Pytuna, outros nomes para noite escura”corpografar pelo sul invertido. entroncar trópicos, linhas imaginárias do corpo-terra dimensionando andanças na corpa híbrida em projeção, quiromancia, fumacê. rotas de encanteria abrindo o tempo que espirala na escuridão a qual me refiro no fundo do caldeirão, estrelas cruzadas do céu desse hemisfério Y todo carrego dessa paisagem inscritas na pele, tensionando cabelos, sementes y outros metais que habitam a lua.as fotografias que compõem esta série foram articuladas a partir de 2017, tendo sido reconfiguradas em 2022 para esta instalação. inspiradas em mapas geográficos y celestes, as anotações, rotas y apontamentos são suleados pela lingüística indígena de Abya Yala com um recorte específico das variações de Tupi, além de Português Brasileiro y traduções para o Alemão num mesmo caldeirão.
 
Jonas Van
Crystal Ages (Idades do Cristal), 2021
Instalação de vídeo e som, esculturas
resina acrílica, ametista, obsidiana, água-marinha, pirita, quartzo rosaColaboração:
Orientação para próteses: Regina Arenas
Mandíbulas: Aretha Sadick, João Simões, Rao Freitas, Xole Senso, Zahra Alencar
3D: Isadora Stevani
Glitches: Gadi Bergamota
 
Jonas Van (Ceará, 1989) é um artista e cozinheiro transnordestino. Suas práticas estão inscritas entre a desobediência de gênero, linguagem e ecologias queer, utilizando instalações efêmeras de som e vídeo, além de textos. Sua obra propõe narrativas ficcionais profundamente íntimas, além de fraturas temporais e linguísticas a partir de uma perspectiva anticolonial. Ele esteve em residências no México, na Bolívia, em Portugal, na Espanha, no Brasil e na Suíça. Atualmente faz mestrado direcionado para pesquisa em Artes Visuais – CCC (Estudos Críticos, Curatoriais e de Cibermídia) na HEAD – Genebra. Vive e trabalha em Genebra, Suíça.

Sy Gomes
e se eu virasse o mundo de vocês de cabeça pra baixo?
2022
Ecossistema efêmero/Instalação performativa
madeira, terra fértil e TV
 
Sy Gomes Barbosa é travesti, negra, cearense e aficionada por criar mundos. Artista visual, cantora, compositora, performer e produtora cultural. Vinte e dois anos de idade. Nascida em Eusébio, no bairro Coaçu, que significa “folha grande”. Historiadora pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Fez parte da 7º edição do Laboratório de Artes Visuais do Porto Iracema das Artes. Fez parte do 71º Salão de Abril e da Exposição Rarefeito. Suas pesquisas se destinam ao questionamento da memória monumental e história tradicional, sempre se perguntando como se constitui uma memória dissidente e viva. Costura o véu do tempo relacionando realidade e ficções, sobe si mesma e sobre o mundo. Criadora de projetos como „Outdoor Travesti“, „Ioiô Não Vai Votar“, „Brotam no Rosto“ e „Travestis são como Plantas“.
 
Artist Statement – Sy Gomes
e se eu virasse o mundo de vocês de cabeça para baixo?“E se eu virasse o mundo de vocês de cabeça para baixo?“ é a primeira performance internacional da historiadora e artista visual Sy Gomes.Enquanto pesquisadora das artes do corpo, a artista propõe nessa ação uma grande dança. Durante a quarentena estabelecida no Brasil em 2020, Sy realizou a obra „Centro de Gravidade“, na qual há o questionamento sobre como podemos ou quantas vezes podemos mudar nosso centro gravitacional. Pensadoras anticoloniais falam que nossa produção modifica o centro de gravidade do mundo, pois está ao Sul.Michelet, historiador francês, foi um dos primeiros a falar sobre „o mundo“. Ele utilizava o termo „le monde“, porém o mundo dele era a Europa Ocidental. Vale pensar, então, qual é o nosso mundo? Qual o mundo das travestis? Como criar um mundo possível para a nossa vida? Assim, deslocando-me até Berlim, quero propor uma reflexão „mundial“, propor uma ameaça, construir uma falta de centralidade. Deixar tudo de cabeça para baixo. Virar ao avesso as percepções de corpo que foram violadas pela ideia de mundo europeu.Busco nessa ação dançar com meu corpo e com o corpo de outras. Há 2 anos pesquiso a movimentação no Transe. Transe performativo, estabelecido através de uma movimentação intensa e instauração de presença. Essa performance deve acontecer em um espaço público, de preferência em uma praça ou na frente do Schwules Museum. Um tablado de madeira cheio de terra. Uma travesti descalça sobre essa terra. Atrás dela há uma tela de TV, em que está sendo repetida a frase „e se eu virasse o mundo de vocês de cabeça para baixo?“ em várias línguas. Além disso, imagens de glitch e fotos distorcidas da artista de cabeça para baixo. Assim como na carta do tarot „O enforcado“, em que há um homem de cabeça para baixo, preso pelos pés, quero simular um lugar de total inversão, mas de constante energia.As imagens produzidas por @amorfas, Benia Almeida, consolidam um estado de frenesi. Junto de Sy, vamos ter um microfone, fios, pedais e instrumentos musicais, com os quais a artista experimenta sonoridades que visam ampliar o corpo performativo. Som é matéria e por isso também é uma extensão da artista ali presente.Roberta Kaya, @robertakaya, é a artista responsável pela imersão musical proposta por Sy. Na conjunção dessas vivências está a dança, que se estabelece através das imagens, do som e do corpo da artista. Uma dança que esgota e que tenta a todo instante virar o mundo de cabeça para baixo, como se fosse possível desviar o centro gravitacional do mundo e de cada uma das pessoas.É, de fato, uma grande metáfora sobre desviar o olhar para corpos, vivências e experiências dissidentes. Habitar a rua como se fôssemos capazes de romper com o mundo dos humanos ocidentais, criando um novo ser, uma nova espécie, uma nova humanidade.

Porca Flor
Ocupe PorcaFlor, 2022
Instalação, lambe-lambe, pintura
papéis, jornal, cola branca, tinta acrílica
 
Multiartista nascida na cidade de Ipiaú, interior da Bahia, Brasil. Bacharel em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da UFBA, formada por experiências coletivas e espaços autônomos. Transvesty, racializada, nômade, ambulante, artista visual, interventora urbana e tatuadora.Suas poéticas atravessam rasuras de gênero e racialidade, acessando conhecimentos invisíveis, futuros, rupestres e ancestrais. Usa a arte como meio para disputar, como ação direta, para transformar e investigar o mundo e os imaginários.
 
Artist Statement – Porca Flor
“Peles Urbanas”A pele não é apenas o nosso maior órgão, mas também aquilo que nos liga entre o interno e o externo, é o que reveste nossos órgãos, músculos e agrupa nossas pequenas partes em um único corpo, possibilitando-nos viver, sentir e experienciar o além de nós. É a pele que carrega nossos mitos, dores, amores, marcadores, estigmas, memórias e histórias. E a tatuagem é um rito de modificação corporal, na qual inserimos pigmento na pele, onde inscrevemos nossas subjetividades, narrativas, passagens e identidades.Não se sabe o que pintamos primeiro. Talvez nossas próprias peles, mas podem ter sido as peles do mundo à nossa volta. “Peles Urbanas” é expansão da tatuagem, uma arma de afeto para ocupar as peles do mundo além de nós, para transformar seu corpo, para COMBATER o cisheterokapital, o racismo, o fascismo, o capacitismo e as lgbtqia+ fobias, pela necessidade de reparação histórica, para criar novas possibilidades de afetar, imaginar, sentir e vivenciar o mundo, tornando visíveis as KORPAS invisíveis e INSUBORDINADAS, por novas possibilidades de identificar, pertencer, imaginar e construir os espaços que nos rodeiam. Celebrando nossas potências e criando novos territórios e nos mantendo vivas, continuamos em luta.

BorBlue
PoeZé (PoeZé), 2022
Instalação, música e poesia
têxtil, adereços (cartas de baralho, prego, dados, vela), pedra, cerâmicaVoz e Composição: BorBlue
Atabaque e Alfaia: Adilson DiPreto
Percussão: Hugo Caetano
Violão e Guitarra: Elton Santos
Saxofone: Dan Cordeiro
Coro: Flores Astrais, Adilson DiPreto, Hugo Caetano, Elton Santos e Dan CordeiroNascido na vila de Icoaraci,
 
BorBlue é artista transgênero que trabalha com carimbó e poesia nos coletivos de Belém, praças e feiras, ampliando o acesso à cultura regional e à poesia marginal. Filho de Santo de Umbanda e Tambor de Mina Nagô do Templo de Rainha Bárbara Soeira e Toy Azaká, liderado por Mãe Rosa de Luyara. Ministra oficinas de carimbó voltada para crianças e idosos. Participou de concursos de poesia representando o Pará na competição nacional em São Paulo. Atualmente faz o curso Técnico em Ator na ETDUFPA e está trabalhando no lançamento do seu primeiro álbum musical.Guiadas pela força da malandragem, as obras que compõem “PoeZé” são resultado das vivências do artista como Filho de Santo no Templo de Rainha Bárbara Soeira e Toy Azaka e de seu despertar espiritual. A malandragem contextualiza o axé envolvido e as questões socioeconômicas colocadas de forma política na demarcação do território afro/indígena no qual a obra é realizada. “PoeZé” é a criação de um universo que reflete as vivências na nossa terra, exaltando a beleza e a poesia presentes nos cultos de matriz afro-religiosos, sobretudo os presentes na Amazônia, onde a matriz indígena tem forte expressão nas bases das manifestações religiosas.

Libra e Xan Marçall
SOB A TERRA DO ENCOBERTO, 2022
Filme
Roteiro e direção: Libra e Xan Marçall
Fotografia: Linga Acácio
Correção de cor: Darwin Marinho de Assis
Edição: Lucas Beijamim
Som direto: Lure Furna
Som: Nicolau Domingues
Trilha sonora: Beá & Flor de Mururê
Produção executiva: Danny Barbosa
 
Libra é uma artista oriunda do Nordeste do Brasil que sempre se sentiu impulsionada a entender expressões sensíveis da sua identidade política e subjetiva. A partir disso, Libra constrói uma trajetória artística que migra através da transdisciplinaridade a partir dos seus trabalhos sonoros, culturais e audiovisuais. Seu projeto IDLIBRA pesquisa musicalidades eletrônicas em busca de vestígios da diáspora e tem se feito presente nos principais festivais do seu estado e em festas de todo o Brasil. Deu início ao processo no cinema ao codirigir o curta-metragem ‘’Frervo’’ que estreou em 2019, e desde então, tem assinado a visualidade de curta-metragens e clipes pernambucanos através da sua ótica performática, e assinado a trilha de videoartes e peças teatrais virtuais através do seu trabalho como produtora sonora.Xan Marçall é uma kaabok amazônica de Mairi do Pará, multiartista e professora de Teatro. Trabalha com a infância e a adolescência na educação formal e não formal. Tem coordenado projetos pedagógicos na área da cultura desde 2009 com pessoas em vulnerabilidade social. Suas pesquisas estão baseadas na ancestralidade kaabok na Amazônia Brasileira. E as práticas da Encantaria Cabocla e as relações de gênero e sexualidades são elaboradas na Amazônia Paraense. Membra fundadora do Coletivo DAS LILITHS-BA.

Daniel Lie
I won’t look to the abyss anymore (Não olharei mais para o abismo), 2022
Instalação
tecido de algodão tingido com curcuma, seis vasos de terracota, flores, corda, varas de madeira
 
Na obra de Daniel Lie, o tempo é o pilar central da reflexão. Das memórias mais antigas e afetivas – envolvendo a família e histórias pessoais – às memórias que os objetos transportam, resistindo no mundo pelas mais longas dimensões temporais, a obra é inspirada pelo período de uma vida e pela duração e os estados dos elementos. Através de instalações, de esculturas e da hibridização das linguagens artísticas, os objetos fazem referência a conceitos provenientes da própria arte da performance – uma arte baseada no tempo, na efemeridade e na presença. A fim de realçar estas três instâncias, Lie produz instalações em que há a presença de elementos não humanos, tais como matéria em decomposição, plantas em crescimento e fungos que revelam o tempo que abrangem em relação ao corpo humano. A pesquisa depara-se com tensões entre a ciência e a religião, a ancestralidade e o presente, a podridão e o frescor, a vida e a morte, tentando quebrar o pensamento binário. Daniel Lie é artista de gênero não conforme de origem indonésio-brasileira, nasceu em São Paulo e atualmente vive em Berlim.
 
Algumas de suas exposições mais importantes:
Daniel Lie, elus/delus, origem indonésio-brasileira (nasc. em 1988 em São Paulo) vive e trabalha em Berlim. Recentemente realizou exposições individuais na Künstlerhaus Bethanien, Berlim (2021), Casa do Povo, São Paulo (2019), Jupiter Artland, Edimburgo (2019), Performeum/Festival de Viena, Viena (2017), Change – Change, Budapeste (2016), Kampnagel, Hamburgo (2016), Centro Cultural São Paulo, São Paulo (2015). Seu trabalho foi incluído em exposições coletivas em diversos locais, incluindo o Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro (2021), Atonal Festival, Berlim (2021), Berlinische Galerie, Berlim (2021), Solar dos Abacaxis, Rio de Janeiro (2020), Cemeti Institute for Art and Society, Jogjacarta (2020), Valongo Festival, Santos (2019), Fundação Osage, Hong Kong (2018), 14ª Bienal de Jogjacarta, Jogjacarta (2017), Frestas – Trienal de Artes, Sorocaba (2017), MuseumsQuartier, Viena (2017), Centro Cultural Banco do Brasil (2016, 2021), 34ª Arte Pará, Belém do Pará (2016).
 
Artist Statement – Daniel Lie
„I won’t look to the abyss anymore“ (Não olharei mais para o abismo) é uma instalação desenvolvida especificamente para o contexto da exposição Transmigration.Após anos de reflexão sobre as diversas camadas de histórias dos ancestrais de Daniel, observando suas narrativas e percebendo as cicatrizes que resultaram de atos de sobrevivência, esta peça invoca uma mudança de perspectiva sobre o processo do viver.O tecido tingido com curcuma desvanece-se com o passar do tempo, vasos de cerâmica contendo matéria orgânica em estado de fermentação liberam odores; fixadas com alfinete no tecido, flores secam.
 
 
Transcrição de áudio
 
Jonas Van
 
Vidéo 1 
What is left of the word
repeated until its disintegration
from its body, the only portion susceptible to eternity
The only material portion resistant to fire
The possibility of articulation
and fantasy of speech
Where all the things we forgot are kept,
the worlds we have passed
The solid state of memory:The teethWhat happens to the teeth
is the replacement of one mineral for another over time
In the mammal body, teeth are replaced once
Diphodontia
Or moreTeeth become whole corals or crystals
They assimilate time and deaths
Nightmares:
presages of transmutationI dreamt that I lost all my teethWhat is left of the soil:
The infinite motion of its imminence
from particles of water to the phantom of sex
Every body crystallizes
the movement
and the word
 
Vidéo 2 Living matter is the codification of memory
our bodies are composts that trigger information
and amalgamate as electromagnetic fluids
into distinct states of matterHardware or plasma
Underwater cables or telepathy
Mucus or quartzFrom my teeth emerge nightmares
small animals make a crust
between speech and mucous,
inhabit this crust like a home

The dead cells of other beings crystallize:
they are our bones and teeth
We are the residues of ghosts

Every body is a disambiguation
in constant velocity

We have never been individuals

Every body is a virtual infinite source
doomed to transmutation

Calcifications are precious sentimental exercises

Every body crystallizes


Auoraura
APOPTOSE
O que aconteceu ainda está se formando
Eu não entendo o começo
Meu corpo começa em um círculo
No começo, quando surge a forma, eu não lembro, não entendo, eu não conheço.
Tenho mais propriedade sobre as memórias dos impulsos que me fizeram crescer.
Crescer é  gestar outro em sí.
Em algum momento, crescer é se dividir.
Divisão e diferenciação
Se espalhar em ordem descontrolada.
se dividir descontroladamente.
Se perder na Biodiversa variação de sí.
virar um aglomerado de variaçõesISTO É UM CORPO?
Partes que criam partes
uma antiga assembléia discordante
Insustentável.
Um ensaio, um gesto insustentável
Minhas moléculas estão em dúvida
todo corpo é uma colônia?
todo corpo é uma matriz?
toda forma é uma matriz?
toda forma é um método de resolução?
o corpo é um método de resolução?
eu estou me perguntando
Bolhas nascendo crescendo e estourando
Eu já havia morrido antes no outro corpo.
Quando em minha pele houveram bolhas nascendo crescendo e eu estourando
Decidi modificar o rumo químico que este corpo estava tomando por imposição natural
Agi em enfrentamento
Estourei a bolha para deixar cicatriz
A natureza enfrenta à sí mesma
Sabia que não seria a solução para o meu problema fundamental,
Vejo como mais um experimento para tirar sentidos de viver num corpo que morre.
Talvez eu tente produzir outra morte que não seja a da testosterona.
Essa mata sabe mais sobre mim do que eu mesma
Ela me conta segredos que se guardam antes da palavra
Quando decido modificar a ecologia do meu corpo, esse processo exige que eu enxergue no escuro.
Atravessar
atravessar é enxergar no escuro.
sobreviver à própria morte.
Este corpo é um amontoado de poeira?
se o corpo é uma organização de partículas, pode o corpo se espalhar em poeira?
Tecidos invisíveis
todo corpo é tecido?
toda pele é memória?
a realidade é um tecido?
a matéria é memória?
a memória é uma malha?
o corpo é uma malha?
Toda pele que veste este corpo já é morta.
A cigarra sabe o que faz quando sai da terra para deixar de ser ninfa?
E se eu vibrar até o corpo finalmente explodir?
essa pode ser uma forma de me desprender.
Continuo esticando meu corpo para abrir um buraco
Em deformar a matéria
Continuo improvisando formas para neutralizar o cansaço do corpo rígido
O corpo atraído pela escuridão segue cavando túneis e abrindo buracos na matéria.
Engolindo e sendo engolida
Um reciclo
Ao tentar ser humana, me percebo dissimulando.
Meu corpo cresce como um fungo num ecoCistema insustentável
Tensão e ansiedade devido aos conflitos entre esperança e necessidade,
seguido de desapontamento intenso.
Uma falha
Acredito que exista uma larva dentro de mim comendo o fim desta massa.
Talvez ela dure para sempre
Eu rezo para que ela tenha fome
Sonho sem imagens com o dia em que não haverá mais espaço para ela aqui;
Procuro sempre, em cada erupção desta pele, um sinal de saída.
Imagino em frequência o movimento que ela faz abrindo túneis para emergir da minha terra
Eu não em acredito origem.
Nenhuma matéria pode ser original
Tudo parece se diferenciar da própria diferença
As imagens são matéria digerida por este corpo
Não há consciênciaAPOPTOSE: morte celular auto-programadasacrifico à mim mesma para me manter viva.

BorBlue
Ogum Ogum que me guia na estrada São Jorge é o meu padroeiro Ogum defende com sua espada Ogum Santo forte, guerreiro… Ogum… Ogum… Ogunhê… Ogum Ogum!
 
Salve Rosinha
Eu venho das matas, rios e terra quente… Eu tenho raiz e guardo na mente a história de meu chão, a balança pensa do muito circo e pouco pão, quando nossa casa virou prisão… Eu venho do grito das que perderam, das que foram afastadas, das mulheres estupradas e todos aqueles presos. Eu venho dos meus avós, eu sou o grito do medo, sou a libertação da voz, sou teu maior desespero por nunca andar sozinha, eu ando sempre a sós… Eu venho de muito longe, um lugar quase esquecido, de muitas mortes, né genocídio? Eu venho de muito além, sobrevivente da fogueira santa, mas sou as que morreram também, minha ancestralidade canta… Eu venho de terras ricas, mas de pouca recíproca, sou fruto de gente que perdeu a vida… sou fera porque muito já fui ferida, na cela também fui esquecida, mas a selva não me deixou perdida. Eu venho da boca dos que maldizem, eu aguento firme e controlo as crises pra chegar até aqui, eu seguro o palpite pro coração não explodir… Não engulo, porque já engoli muito… Desabrochei nada flor, de olhos vermelhos meio sangue e a mulher nem sentiu dor… trouxe ao mundo a revolta dos injustiçados, a memória das índigenas e negras jamais esquecidas, revoltados, porque nunca se cura a doença, só muda os sintomas… ninguém soma, mas todo mundo dá sentença… Eu venho de muito longe e cheguei até aqui, sobrevivente da estrada velha do outeiro, no furo do maguari. Nascida de frente pro sol na vila de Icoaraci. Desculpa se demorei, é que eu tive que desviar de umas balas, preconceito e uns caras, Tu nem imagina quanto tempo esperei… Deus sabe e salve a casa e todos que aqui estão, para que eu seja atendida como Cristo e Dalila, que eu seja a força do Sansão pra alcançar e obter e ninguém consiga dizer não, Se Ogum é por mim, Rosa malandra nessa terra eu sigo firme na guerra pois nada será contra mim… Eu venho de muito longe e muito caminhei pra chegar até aqui e dizer EU CHEGUEI!
 
Malandro Jorge
A malandragem daquele moço Que não dizia seu nome No espelho o esboço Que no chapéu se esconde No trançado de suas pernas No Gingado de seu tempo A rua é casa, encruzilhada Entregue ao vento… Lua maior, constelações Em Soltas no centro Um toque atabaque, faz marcação pra quem tá dentro Vinho, cachaça, cigarro acesso Processo lento O Pai me falou que a dor que eu sinto Eu mesmo invento E toda mentira, maldade armada Jogo no tempo Guias atadas, espada Axé e eu me benzo eu me benzo Axé! E eu e benzo…
 
Índio?
O que tu entendes por superioridade? Só porque vive num padrão de cidade acha que é errado o que a gente faz, duvida da nossa capacidade e entende por capaz ter nascido branco, rico e dar ordem pra capataz…diz que a forma como vivo tá ultrapassada, tem que mudar porque é primitivo… Cava meu chão, rouba nossas riquezas, invade nossas terras e até me chama de índio, como se fosse ofensa, que doido! Vai no Ver-o-Peso, tira uma self e diz que tá contemplando a beleza. Eu acho graça, mas é de tristeza… É que a gente teve que aprender a rir da própria desgraça… Faz o papel perfeito da história mal contada Um povo “receptivo” que foi obrigado a aceitar suas tralhas. Que nos escravizou e diz na escola que eu troquei pau-brasil por prata?! E nos matavam porque nossas flechas eram mais lentas que suas armas… gente branca dominou, já tava experiente, trazia preto na mala… branco mata, branco prende junto, branco se lasca! Branco fez índio conhecer senzala… Cansamos dos seus abusos, das suas ordens e seus estupros, de suas limitações… agora invadem nossas terras com seus prédios e construções. Pintam uma vida feliz e perfeita, a modernidade e suas ilusões, que me promete céus, terras e uns milhões mas me paga com bala de fuzil porque tá ultrapassado usar canhões… Qual foi doido? Porque tu tá rindo se é tu que tá fazendo feio, que tá por fora, nos discrimina, não tem respeito com a nossa cultura e acha que cocar se compra em loja Diz que falo errado, mas desde que nasci fui influenciado pelo português e a culpa é de vocês, eu não falar tupi. Eu vi, eu vi e vejo sua arrogância e indiferença quando eu chego e tua expressão grita de me ver aqui, porque no fundo tu acha que eu não mereço, me invisibiliza e exclui do rolê e sem querer me ofender, só acha que índio não socializa… Mano! índio tá fazendo poesia. e veio aqui dizer que quando vocês não existiam era melhor a nossa vida… pra mim não faz muita diferença tua opinião, sobre meus costumes, problema é teu se tu gosta ou não. e se nós chia igual panela mano, é porque nós é pressão, cuidado que nós é macumbeiro e faz amarração, tem fama de feiticeiro e pra vocês isso nem é uma religião… pode invadir nosso terreiro, queimar nossas roupas, quebrar imagem. Mas é caboco que me guia, exu que me protege e a gente adora andar com a malandragem… E assim a gente vai resistindo, os pajés, as benzedeiras, os caboquinhos os curumins, os feiticeiros, os irmãos e irmãs. E eu tenho maior orgulho de ter uma mãe de santo trans… hoje eu vim dizer que tô cansado de sair do meu lugar pra ter oportunidade, eu não tenho que provar nada nessa cidade. E pode me dar a nota que vocês sentirem vontade, porque hoje eu não vim pra ganhar dez, eu vim só falar umas verdades…
 
Bença
Conceito, Texto e Vocais: A TRÄNSALIEN, Sanni Est, Ué Prazeres
Modelagem e Animação 3D: Alexandre Pina
Produção Sonora: Sanni Est
 
Imagina povo Toma bença de Deus Povo imagina Toma bença de Deus
 
 
To rise from the ashes, to transmute oneself in the face of the debacle of supremacy is a radical act of love for oneself. One must access a supersensible nature to manifest the beauty outlined within one’s own being.

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